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quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Comida de Santo



As coisas grandes começam sempre pelos motivos mais pequenos. A história do restaurante "Comida de Santo" começa com um chupa-chupa. A filha de Antonio José Pinto Coelho estava longe de saber que os seus insistentes pedidos por um chupa-chupa iriam modificar definitivamente a vida do pai. Com três anos apenas, era uma inocente culpada. E foi um pai solicito e descontraído que atravessou a Calçada Engenheiro Miguel Pais, em Lisboa, em busca do chupa-chupa desejado. Encontrou-o numa mercearia, no nº 39. E terá gostado tanto do sítio que, quando de lá saiu, já tinha fixado o preço do que iria ser o futuro "Comida de Santo". Estávamos em 1980. A sua formação hoteleira (gerente) garantia desde logo um empreendimento pensado e de qualidade; Mas Tozé Pinto Coelho (é assim que os amigos o conhecem) queria mais - um restaurante especializado em comida Brasileira. A palavra é dele: "Nessa altura eu viajava muito para o Brasil, e sempre gostei muito da comida Brasileira - sobretudo a Baiana. Resolvi ir para o Brasil, aprender a cozinhar os pratos de lá". E foi mesmo. Ofereceu-se em vários restaurantes para trabalhar de graça nas cozinhas: "Só queria aprender, mais nada. Claro que os donos dos restaurantes desconfiavam - um Português, e ainda por cima de graça..." Até que no restaurante "Bargaço", ainda hoje considerado um dos melhores do Brasil, consegui o que pretendia: as coincidências não acontecem por acaso, e ao ver um Português entrar-lhe pelo restaurante dentro, o proprietário, Leonel Rocha perguntou-lhe logo de que zona de Portugal era. Nem de propósito - era conterrâneo do gerente e do irmão, com quem tinha estudado. Foi o princípio de uma aprendizagem que o dono do "Comida de Santo" ainda preza e mantém: "Quando preciso de alguma coisa, um ingrediente, ele manda-me. Quando vou a Salvador, vou sempre lá, e recomendo o "Bargaço" a toda a gente". A lição foi muito bem aprendida e passada aos cozinheiros do "Comida de santo". Ninguém fica indiferente às muquecas de camarão, feijoadas ou vatapás que o restaurante oferece. Pouco tempo depois de abrir as portas, toda a Lisboa conhecia aquele restaurante Brasileiro perto do Príncipe Real. A casa começou-se a encher-se da moda, dos jornais, da política, da televisão, do desporto. A expressão "vamos ao Brasileiro" ou "vamos ao Tozé" começou a generalizar-se. O restaurante impôs-se discreta e irreversivelmente, e pelas melhores razões: a comida e o ambiente.
Hoje em dia ninguém contesta a excelência do "Comida de Santo". O segredo é simples; ali sabem que um restaurante não deve só servir comida e bebida – a amizade, a atenção e a cumplicidade com o cliente são condimentos essenciais para uma casa feliz. E nisso Tozé Pinto Coelho é um mestre. Não é por acaso que tem clientes, que datam do dia de abertura. E mesmo os novatos são iniciados neste mundo de conversa e simpatia sem grandes dificuldades. Quem entra na "Comida de Santo" sabe que pode contar com uma anedota, um vinho escolhido a preceito, um comentário mais picante e um cuidado fora do normal. Como uma imensa família. É impossível resistir a esta agradável intimidade, e muitos chegam até a perdoar o dono da casa pelo seu fanatismo confesso pelo Futebol Clube do Porto. Agora, Tozé goza as delícias da pré-reforma. A obra está feita e aprovada. Dá-lhes mais tempo para viajar em cima de uma potente moto, outra das suas paixões. E sobretudo, ele sabe que o "Comida de Santo" está em muito boas mãos; as do Gonçalo e Patricia Pinto Coelho, a menina que há vinte anos atrás lhe pediu um chupa-chupa. Nuno Miguel Guedes ( Jornalista "O Independente" )

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